sábado, 30 de maio de 2015

Trechos #25

O moribundo balançou a cabeça. Afastou os rapazes e a família a beira da cama; com a outra mão pendurou-se firmemente em Don Corleone. Tentou falar. Don Corleone baixou a cabeça e se sentou na cadeira ao lado da cama. Genco Abbandando balbuciava algo a respeito da infância dos dois. Então, seu s olhos pretos como carvão apresentavam ar zombeteiro, e ele sussurrou. Don Corleone inclinou-se mais. Os presentes àquela cena ficaram espantados ao verem lágrimas correrem pleas faces de Don Corleone, enquanto ele balançava a cabeça. A voz trêmula se tornou mais alta, enchendo o quarto. Com um esforço torturante, sobre-humano, Abbandando levantou a cabeça do travesseiro, sem enxergar nada, e apontou o dedo indicador esquelético para Don Corleone.

- Padrinho, Padrinho - gritou cegamente -, salve-me da morte, eu lhe suplico! Minha carne está queimando, meus ossos e sinto vermes comerem meus miolos. Padrinho cure-me, você tem poder para isso, enxugue as lágrimas da minha pobre mulher! Brincamos juntos na aleia quando crianças, e agora você deixará que eu morra, quando tenho medo do inferno por causa dos meus pecados? - Don Corleone manteve-se calado. - É o dia do casamento da sua filha - prosseguiu o moribundo -, você não pode recusar-me isso.

Don Corleone falou então de modo sereno e grave, a fim de responder àquele delírio blasfemo.

- Meu velho amigo - disse ele -, eu não tenho tais poderes. Se eu tivesse, seria mais misericordioso do que Deus, creia-me. Mas não tenha medo da morte e não tenha medo do inferno. Eu farei rezar uma missa por sua alma toas as noites e todas as manhãs. Sua mulher e sua filha rezarão por você. Como pode Deus punir você com tantos apelos de misericórdia.
O Poderoso Chefão - Mario Puzo

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